Arquivos da categoria: Literatura

"Kurt
Kurt Schwitters – 1920.

 

A jornada de um jornal
Um senhor toma um bonde depois de comprar um
jornal
e colocá-lo em baixo do braço.
Meia hora mais tarde desce com o mesmo
jornal
em baixo do mesmo braço.
Mas já não é o mesmo
jornal,
agora é um monte de
folhas impressas
que o senhor abandona em um banco de praça.
Tão logo só no banco da praça o monte de
folhas impressas
se converte novamente em
jornal,
até que um rapaz o veja,
o leia, o deixe convertido num monte de
folhas impressas.
Tão logo só no banco da praça o monte de
folhas impressas
se converte novamente em
jornal,
até que uma senhora o
encontre, o leia, e o deixe convertido em um monte de
folhas impressas.
Mas
ela o leva para a sua casa e no caminho o usa para empacotar meio quilo de acelga,
que é para que servem os
jornais
depois destas excitantes metamorfoses.

FIM.

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A preservação das lembranças – Cortázar para se ler no celular

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Os famas para preservar suas lembranças, as embalsamam da seguinte forma: logo que fixada a lembrança com todos os detalhes, as envolvem da cabeça aos pés com uma manta preta e as colocam contra a parede da sala com uma etiqueta: Excursão à Quilmes ou: Frank Sinatra.

Já os cronópios, seres calorosos e desorganizados, deixam as lembranças soltas pela casa, em constante algazarra, e andam no meio delas e quando uma passa correndo, a acariciam com suavidade e dizem: Não vá se machucar! e também: Cuidado com a escada!

É por isso que as casas dos famas são arrumadas e silenciosas enquanto as dos cronópios são uma bagunça com portas batendo.

Os vizinhos sempre se queixam dos cronópios e os famas, balançando a cabeça compreensivamente, vão verificar se as etiquetas (de suas lembranças) estão nos seus respectivos lugares.

(Imagem: Mark Rohtko – 1961)

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Cortázar para se ler no celular

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Condor e Cronópio

Um condor cai com um raio sobre um cronópio que passa por Tinogasta, o encurrala contra a parede de granito, e diz com petulância, a saber:

Condor. — Atreve-se a dizer que não sou belo?

Cronópio. — Você é o pássaro mais bonito de já vi.

Condor. —Mais.

Cronópio. — Você é mais bonito que a ave do paraíso.

Condor. — Atreve-se a dizer que não voo alto?

Cronópio. — Você voa a alturas vertiginosas, e é completamente supersônico e estratosférico.

Condor. — Atreve-se a dizer que cheiro mal?

Cronópio. — Cheira melhor que um litro inteiro da colônia Jean-Marie Farina.

Condor. — Que merda, cara! Você não deixa nenhum espaço para a rapinagem do Condor.

Victor Delfin-Red Inca Condor

Victor Delfin-Red Inca Condor

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Amor 77 – Cortázar para se ler no celular

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Joseph Albers – Homenagem ao Quadrado

 

Amor 77

E depois de fazer tudo o que fazem, se levantam, se banham, se entalcam, se perfumam e, assim progressivamente, vão voltando a ser o que não são.

Fim

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Joseph Albers – Homenagem ao Quadrado

 

 

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Intolerâncias – Cortázar para ler no celular

2015 – 100 anos de Cortázar
Ultimo Round – 1969

Intolerâncias

intolerancias 1

Nunca pude tolerar bocejos, sobretudo na boca de um agente de polícia. É mais forte do que eu, se numa esquina vejo um policial bocejar, me acerco dele e lhe dou destas bofetadas de ida e volta que se parecem com o bater de asas de uma pomba. Isto já me custou três costelas fraturadas e um total de quinze meses de prisão, sem contar chutes e outros machucados. Mas não está em mim impedir isto, e a única maneira de se evitar tantas desgraças é cruzar apenas com policiais que amam o seu trabalho e se mantêm totalmente focados no controle do tráfego.

Com padres, é ainda pior, porque quando surpreendo um padre bocejando minha indignação ultrapassa todos os limites. Vou à missa o mais que posso, e das primeiras filas vigio atentamente o oficiante. Se o surpreendo bocejando no momento da elevação, como já ocorreu duas vezes, algo mais forte que eu me precipita altar a cima, e nem queiram saber o resto. Existem volumosos relatos na cúria, e em algumas igrejas sou anátema e defenestração apenas me aproximo do nártex.

Eu pessoalmente adoro bocejar, porque é higiênico, meus olhos se enchem de lágrimas que arrastam consigo numerosas impurezas. Mas jamais se me ocorreria fazê-lo enquanto espero, com o bloco de estenografia nas mãos, que o senhor Rosenthal me dite uma dessas cartas onde ele nega alguma coisa com melosa verborragia. Às vezes tenho a impressão que o senhor Rosenthal se preocupa com o fato de que eu não boceje, porque minha concentração no trabalho o tem obrigado a aumentar o meu salário.

intolerancias 2Estou quase seguro de que se alguma vez se me escapasse um bocejo, o senhor Rosenthal ficaria mudo e agradecido, visto que tanto interesse profissional o inquieta. Mas, eu dissimulo minuciosamente os bocejos que a partir das quatro e meia da tarde se precipitam no meu palato e garganta; por isso, se ao sair, vejo bocejar um policial, não posso conter a indignação e me precipito a dar-lhe bofetadas.  É curioso, mas o faço sem o menor prazer, um pouco como se nesse momento eu fosse o senhor Rosenthal e ao mesmo tempo o policial, ou seja, como se o senhor Rosenthal estivesse me esbofeteando em plena rua.

Quase prefiro os pontapés e o calabouço, ou a excomunhão, quando é um padre, porque então se trata de mim, unicamente de mim, do que nesses episódios em que ninguém sabe bem, quem é quem.

 

Texto: Intolerâncias de O Último Round (Julio Cortázar)

Ilustrações: Jean-Michel Folon

 

 

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O afreudisíaco Lacan na galáxia de lalingua

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Ψ
(psi)
analítica
mente

a
fala
fala

logo
lógos
(λόγος)
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O afreudisíaco Lacan na galáxia de lalingua – título de um artigo de Haroldo de Campos

Id-Grids and Ego-Graphs – Jacob Drachler para o Finnegas Wake de James Joyce
A partir de Brain Picking: https://www.brainpickings.org/index.php/2013/05/24/id-grids-and-ego-graphs-jacob-drachler/

 

 

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A Arte funda a História

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A Arte funda a História
(Martin Heidegger)
Somos produtos da, e submetidos à, cultura.
Cultura é costume, hábito, norma, regra, repetição não crítica, comunicação (pessoal ou de massa), as retóricas aceitas. As lógicas dos sistemas presentes.
A cultura nos parece ser o normal. O universalmente válido. A essência. A verdade.
A obra de arte (“enquanto exceção e singularidade solitária”) “é justamente uma condição rara e privilegiada de distanciamento crítico em relação à cultura”.
Cultura ̩ regra, arte ̩ exce̤̣o Р(Jean-Luc Godard).
O historiador fala das coisas que foram,
o poeta fala das coisas que poderiam ser
e sobretudo deveriam ser.
“Não é, Raana, que eu soe mais alto
Ou mais doce que os outros. É que eu
Sou um Poeta, e bebo vida
Como os homens menores bebem vinho.”
(Trovador proven̤al Рvia Ezra Pound?).
Os artistas ṣo a antena da ra̤a Р(Ezra Pound).
eu sou eu,
assino arte
(filosofia, ciência)
para além
da cultura e religião,
e seja o que Deus quiser.

 

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Vestir uma sombra – Cortázar para se ler no celular

2015 – 100 anos de Cortázar
Ultimo Round – 1969

vestir uma sombra

A coisa mais difícil é abordá-la, saber o seu limite, ali onde se confunde com a penumbra, ao borde de si própria. Escolhê-la entre tantas, afastá-la da luz de que toda sombra respira sigilosa, perigosamente. Começar então a vesti-la como que distraído, sem mover-se demasiadamente, sem assustá-la ou dissolvê-la: operação inicial onde o nada se esconde em cada gesto.

A lingerie, o transparente corpinho, as meias de seda que desenham uma ascensão sedosa até os músculos. Tudo ela consentirá em sua momentânea ignorância, como se acreditasse estar brincando com outra sombra, mas de repente se inquietará quando a saia cingir a sua cintura e sentir os dedos abotoando a blusa entre os seios, roçando a garganta que se alonga até perder-se num jorro obscuro.

Ela rechaçará o gesto de coroá-la com uma esvoaçante peruca loira (esta aura imprecisa rodeando um rosto inexistente!) e ter-se-á que apressar-se a desenhar a boca com a brasa de um cigarro, deslizar anéis e pulseiras para dar-lhe essas mãos com as quais resistirá inicialmente enquanto os lábios, apenas nascidos, murmuram a queixa imemorial de quem desperta para o mundo.

Faltarão os olhos, que brotarão das lágrimas, a sombra por si mesma completando-se, para melhor lutar, para negar-se. Inutilmente comovedora quando o mesmo impulso que a visitou, a mesma sede de vê-la conformar-se perfeita a partir do confuso espaço, comece a desnudá-la, a descobrir pela primeira vez sua forma que em vão busca proteger-se por trás de mãos e súplicas, mas consentindo lentamente na queda, num brilhar de anéis que rasgam o ar seus úmidos vaga-lumes.

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Não se deixe – Cortázar para se ler no celular

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Ultimo Round – 1969

Não me vendo Augusto de Campos

Não me vendo
Augusto de Campos

É obvio que tentarão comprar todo poeta ou narrador de ideologia cuja literatura influencie as perspectivas do seu tempo; não é menos óbvio que é do escritor, e só dele, que depende de que isto não aconteça.

Por outro lado, será mais difícil e penoso impedir que seus correligionários e leitores (nem sempre são os mesmos), o submetam a toda a gama de extorsões emocionais e políticas para força-lo gentilmente a meter-se cada vez mais nas formas públicas e espetaculares “do seu compromisso”. Chegará um dia em que, mais do que livros, se reclamarão discursos, palestras, assinaturas, cartas abertas, debates, participação em congressos, política.

E assim, este equilíbrio delicado e preciso que permite seguir criando a sua obra, que alça voo, sem converter-se em monstro sagrado, ou o herói que exibem nas feiras da história cotidiana, torna-se o combate mais duro a que tem que se livrar o poeta ou narrador, para continuar a cumprir o seu compromisso, onde tem a sua razão de ser, de onde brota a sua folhagem.

Amarga e necessária moral: Não se deixe comprar, garoto, tão pouco vender.

 

Não me vendo Augusto de Campos

Não me vendo
Augusto de Campos

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Cabaré Voltaire – onde o Dadaísmo efetivamente existiu

DaDa Рum quase nada mas que fez toda uma diferen̤a. Durou apenas 5 meses.

“A palavra experimental não deve descrever um ato em termos de julgamento futuro quanto a seu sucesso ou fracasso, e sim ser aplicada a um ato cujo resultado seja desconhecido” – John Cage.

Cabaré Voltaire - Zurique

Cabar̩ Voltaire РZurique

http://cultura.estadao.com.br/noticias/artes,zurique-restaura-os-locais-por-onde-passram-os-artistas-dadaistas,10000019862

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